Caro leitor,
Às vezes, alguns leitores me enviam mensagens reclamando quando escrevo sobre política.
“Você deveria se limitar ao mercado financeiro”, eles sugerem. Mas quando os fundamentos da Bolsa e do câmbio são políticos, só me resta falar do assunto.
Se as cotações estivessem sendo influenciadas por condições climáticas (seca ou inundação – weather market), estaria comentando meteorologia.
Caso o tema em voga fosse inflação, taxa de juros e eleições, estaria dedicando meus textos a inflação, taxa de juros e eleições.
Só que o assunto dos últimos meses foi basicamente a reforma da Previdência. Aos 45 do segundo tempo (falta a prorrogação, na próxima semana), o Senado tungou mais R$ 76,4 bilhões da economia esperada para os próximos dez anos. Se o motivo foi justo, não vem ao caso. Mas tungou.
O mercado não gostou nem um pouco desse corte inesperado. Pior, nos destaques votados ontem (e felizmente derrotados) havia a possibilidade de que a reforma perdesse outros R$ 201,3 bilhões, hipótese em que a desidratação teria outro nome: quebra do sistema previdenciário.
Não se pode descartar os tombaços sucessivos que Nova York vem sofrendo. Claro que isso também influenciou a queda de São Paulo.
Voltando à reforma, segundo o relator Tasso Jereissati, “alcançamos um resultado muito bom, não um resultado ótimo”.
No início do ano, quando o assunto começou a ser tratado, a expectativa do governo era de uma economia de R$ 1,2 trilhão, valor esse que, caso o segundo turno de votação no Senado não enxugue mais nada, deverá ficar em pouco mais de R$ 800 bilhões em uma década.
Cá entre nós, esses números podem melhorar, dependendo da economia voltar a crescer, trazendo a reboque maior arrecadação do INSS.
O low do ano no Ibovespa ocorreu logo no primeiro dia útil (2 de janeiro), quando o índice foi cotado a 87.537. Na época, inclusive tive a audácia de escrever a crônica “O Ibovespa já fez a mínima de 2019”.
Hoje vou repetir a dose. Acho que a máxima também já aconteceu, a 106.650, no dia 10 de julho, quando a PEC previdenciária foi aprovada em 1º turno na Câmara dos Deputados. Antes dos destaques castradores, bem entendido.
No meu juízo, essa economia de R$ 800 bilhões se deve única e exclusivamente aos esforços do ministro da Economia, Paulo Guedes, do secretário da Previdência, Rogério Marinho, dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e dos relatores Samuel Moreira (Câmara dos Deputados) e Jereissati.
Durante todo esse tempo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, se preocupou em preservar os direitos dos militares e policiais, como tem sido seu papel desde que assumiu uma cadeira na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, em 1989. Aliás, na ocasião, seu projeto mais comentado foi o de que os militares tivessem passe gratuito nos ônibus, trens e metrô da cidade.
O Brasil teve a sorte de Bolsonaro ter se encantado com Paulo Guedes, liberal convicto da Escola de Chicago. Tivesse escolhido para a pasta da Economia um ultranacionalista, como o próprio capitão-presidente foi durante quase toda a sua vida pública, nós estaríamos ferrados.
Ferrados da porra, só para usar a linguagem em voga no Planalto.
Ivan Sant'Anna
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